Na velha casa da Rua Goiás, em Avaré, o quarto dele era o pequeno, no fundo. A porta dava para a cozinha. Um quarto encantado, com vitrola, miniaturas de aviões, soldadinhos de chumbo. Tintas, pincéis e colas especiais que eu não podia tocar. Era um artista. Herdou do meu avô – que consertava rádios, lambretas e carros – a curiosidade do olhar e a maestria no montar, desmontar, montar novamente…
Nas minhas lembranças ele era muito alto, me carregava no colo e dançava comigo na cozinha sem teto. Tudo era grande e lindo, as telhas lá no alto, o armário azul… Na vitrola, Sá Marina, que ele, atendendo a pedidos, colocava repetidas vezes, para tocar:
– De novo? Você é um purgante, dose para elefante!
Eu não entendia o significado das palavras, mas ficava feliz por ser algo tão grande para aquele Tio que enchia minhas férias de alegria e encantamento.
Eu já devia ter por volta de 10 anos, quando ele foi nos visitar e levou pra mim um kit com molde, feltro, linha e agulha, para montar um bambi. Era uma peça grande, de pernas altas. Sobrou um pedaço de feltro do corte entre as pernas. Foi a primeira vez que diminui um molde… Minha primeira miniatura, talvez o momento em que, sem saber, comecei a expressar e honrar os que vieram antes de mim.
Meu Tio Renato voltou para a Pátria Espiritual, ontem.
No YouTube hoje, Sá Marina repetida inúmeras vezes, me fez, finalmente chorar!
Boa viagem Renato Rangel! Luz!